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quarta-feira, 25 de março de 2009

Tratamento alternativo para o mal de Parkinson

Estimulação elétrica da medula espinhal restaura movimentos em roedores com sintomas da doença

Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Duke, nos Estados Unidos, pode dar origem a um novo método para tratar o mal de Parkinson. A estimulação elétrica da medula espinhal foi capaz de restabelecer quase instantaneamente a habilidade motora de roedores com sintomas semelhantes aos dessa doença. A técnica poderá se tornar uma alternativa menos invasiva à estimulação do cérebro dos pacientes, adotada como complemento ao uso de medicação.

A doença de Parkinson caracteriza-se pela degeneração e morte dos neurônios produtores de dopamina (neurotransmissor que estimula o sistema nervoso central), o que provoca diversos prejuízos à habilidade motora, como tremor, rigidez, lentidão de movimentos e imobilidade.

Embora não haja cura para a doença, seus sintomas podem ser continuamente tratados com o uso de drogas que repõem a dopamina. Mas essa terapia é menos efetiva em longo prazo. Em alguns casos, o tratamento pode ser complementado com a estimulação elétrica do cérebro, feita por meio da inserção de eletrodos em regiões específicas do órgão.


O ator canadense Michael J. Fox, famoso por seu papel na trilogia De volta para o futuro, é portador da doença de Parkinson, que causa diversos prejuízos à habilidade motora, como tremor, rigidez e lentidão nos movimentos (foto: Alan Light).




A ideia de aplicar estímulos elétricos à medula espinhal para tratar os sintomas da doença surgiu a partir de pesquisas anteriores sobre epilepsia feitas pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, líder da equipe da Universidade Duke e pesquisador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal. Os resultados mostraram que a estimulação do sistema nervoso periférico facilita a comunicação entre o corpo e a medula espinhal e reduz os ataques epiléticos, cujas oscilações neurais se assemelham à atividade cerebral de portadores de Parkinson.

Para avaliar a eficácia do novo tratamento, pequenos eletrodos – conectados a um gerador portátil capaz de produzir uma corrente elétrica suave – foram implantados sobre a superfície da medula espinhal de ratos e camundongos. Os roedores usados no estudo tinham deficiência de dopamina, de forma a simular as características biológicas e os prejuízos na habilidade motora observados em pacientes com doença de Parkinson em estágios avançados. Os pesquisadores usaram vários níveis de estimulação elétrica combinados com diferentes doses de terapia de reposição de dopamina.

Recuperação imediata
“Vemos uma mudança quase imediata na habilidade funcional dos animais quando o dispositivo estimula a medula espinhal”, diz Nicolelis em comunicado à imprensa. Cerca de 3 segundos após a estimulação, os movimentos difíceis e vagarosos dos animais com deficiência de dopamina foram substituídos por comportamentos ativos típicos de animais saudáveis.

Os resultados do estudo, publicados com destaque na Science desta semana, mostram que a atividade locomotora dos animais durante o período de estimulação foi, em média, mais de 26 vezes maior do que durante os cinco minutos anteriores ao estímulo. Quando combinada com o uso de medicação, a estimulação elétrica reduziu a quantidade necessária da droga: os movimentos se restabeleceram com apenas um quinto da dose empregada no tratamento farmacológico isolado.

O primeiro autor do estudo, Romulo Fuentes, explica que a atividade cerebral de pacientes com doença de Parkinson é sincronizada em uma frequência muito baixa. “Isso significa que os neurônios são impostos a um ritmo vagaroso aparentemente incompatível com a iniciação do movimento”, diz à CH On-line.

Segundo Fuentes, em um cérebro saudável, os neurônios apresentam uma atividade rítmica de alta frequência antes e durante o movimento. “Observamos que a estimulação da coluna dorsal é capaz de induzir no cérebro tal atividade de alta frequência, criando, assim, o estado cerebral apropriado para iniciar o movimento”, completa.

A equipe agora pretende avaliar os efeitos colaterais do uso de longa duração do novo método e testar seu desempenho em primatas com doença de Parkinson. “Se pudermos demonstrar que o dispositivo é seguro e eficaz em longo prazo em primatas e, depois, em humanos, virtualmente todos os pacientes poderiam ser elegíveis para esse tratamento em um futuro próximo”, prevê Nicolelis.


Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line

Quando crescer, vou ser... oceanógrafo!

Esse profissional estuda a vida nos oceanos e precisa gostar de trabalhar ao ar livre

(Ilustração: Gil)


Não é novidade alguma dizer que os oceanos sempre instigaram a imaginação e o fascínio dos seres humanos. Mas garanto que você ficará surpreso ao saber que o ramo da ciência que se dedica a estudar mares, oceanos e litorais surgiu há cerca de duzentos anos, mas ainda é considerado jovem frente ao que ainda há por ser investigado sob as águas. Agora, diz: você por acaso sabe exatamente o que faz um oceanógrafo?

O oceanógrafo (ou oceanólogo) é, de fato, o profissional responsável pelo estudo da vida nos oceanos, que, além de cobrirem a maior parte do nosso planeta, são importante fonte de alimento e influenciam diretamente o clima da Terra. Dependendo da sua especialidade, o oceanógrafo pode se dedicar a estudar, por exemplo, as rochas e o relevo submerso, o movimento das marés e correntes marinhas ou as substâncias dissolvidas na água.


(Ilustração: Gil)


Quem quiser seguir na profissão precisa, portanto, gostar de trabalhar ao ar livre, especialmente em barcos e navios. Paulo Rubens Guimarães Barrocas, da Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, explica que sempre se sentiu muito próximo do mar. “Sou carioca e cresci junto da Baía de Guanabara. Sempre fui um menino curioso, queria saber por que o mar era salgado, como os peixes respiravam debaixo da água e assim por diante”, explica. “A oceanografia é uma ciência muito jovem, com muita coisa para ser descoberta”.

Mas nem tudo é observação da natureza. Ser oceanógrafo requer estudar muito algumas disciplinas como a física, a química e a matemática. “É errado pensar que a oceanografia se preocupa apenas com a biologia marinha”, afirma Paulo Barrocas. “Nós, oceanógrafos, realizamos muitos cálculos! Eu sempre trabalhei com oceanografia química, estudando principalmente a contaminação por metais pesados, como mercúrio, nos sistemas costeiros.” Viu só?!

O oceanógrafo também tem papel fundamental na preservação do ambiente e da vida marinha e na conscientização das populações costeiras. Zafira da Silva de Almeida, oceanógrafa da Unidade de Química e Biologia da Universidade Estadual do Maranhão, estuda tubarões, raias e peixes que habitam a costa do Nordeste brasileiro, e defende os animais com unhas e dentes:

“As pessoas têm medo dos tubarões, porque os vêem como bichos malvados”, comenta. “Esses animais são importantes para o equilíbrio ecológico e devem ser protegidos. Eles só atacam quando se sentem ameaçados, como uma forma de defesa”.

A pesquisadora, que já mergulhou ao lado de tubarões de até dois metros no Atol das Rocas, conjunto de ilhas que fica a 260 quilômetros de Natal, no Rio Grande do Norte, conta que quando o ambiente marinho está bem preservado, os ataques de tubarão a pessoas são muito raros. “Durante vários anos, analisei o estômago de muitos tubarões, e nunca encontrei nem um dedinho humano”, brinca.

A redução da população de peixes é outro problema que a oceanógrafa ajuda a combater. Ela trabalha junto com comunidades de pescadores, alertando sobre essa difícil situação. “A diminuição do número de peixes afeta principalmente os pescadores, mas como eles não têm mais de onde tirar o seu sustento, continuam realizando a pesca predatória”, explica. “Nós estudamos os hábitos de reprodução e alimentação dos peixes para sabermos a partir de que tamanho eles podem ser capturados.”

Existem vários caminhos para quem quiser se tornar um oceanógrafo. Pode-se optar direto por um curso de oceanografia, em que a formação é mais ampla em suas várias especialidades, ou pode-se estudar biologia ou geografia, por exemplo, e depois vir a se especializar em oceanografia química, biológica, física ou geológica. Qualquer que seja a forma de ingressar na carreira, é importante amar a natureza, os mares e a vida em geral, e, claro, se empenhar ao máximo para fazer o ambiente marinho mudar para melhor!

Fonte: Ciência Hoje das Crianças
Igor Waltz
Instituto Ciência Hoje/RJ

Onipresentes e perigosas

Tão pequenininhas, não é?! Tem gente que até tem pena de eliminá-las! Leia essa matéria e conheça um pouco mais sobre as formigas!!!

Formigas podem ser transmissoras de infecções em ambientes hospitalares, mostra estudo

Elas estão por toda parte. Muitos pensam que, por circular por lugares limpos, as formigas também são limpas e inofensivas. Mas um estudo brasileiro mostrou que elas podem representar um risco à saúde em ambientes hospitalares. Esses insetos podem ser veículos de micro-organismos, muitos deles responsáveis pelas temidas infecções hospitalares.

O estudo foi feito a partir da coleta e análise de 125 formigas no hospital da Universidade de Taubaté (Unitau), no interior de São Paulo. Os resultados, publicados na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, mostram que 98,4% dos insetos analisados tinham em seu corpo micro-organismos como bactérias e fungos.

O estudo foi desenvolvido por Rogério dos Santos Pereira como trabalho de conclusão de curso de biologia, sob orientação da professora Mariko Ueno, da Unitau. Na análise realizada por eles com as 125 formigas coletadas, em diferentes unidades de um hospital universitário, 98,4% veicularam algum micro-organismo.

Formigas da espécie Tapinoma melanocephalum, conhecidas como formigas-fantasma. Por serem adaptadas aos ambientes urbanos, as formigas podem ser veículos para micro-organismos patogênicos em hospitais, representando um risco para os pacientes (foto: Wikimedia Commons).




Dentre as bactérias isoladas, estavam presentes importantes agentes potencialmente patogênicos comumente envolvidos em infecções hospitalares, como enterobactérias e Staphylococcus coagulase negativa. Também foram encontrados nas formigas fungos filamentosos e leveduras.

Entre os 14 tipos de fungos identificados, o Trichophyton rubrum é o mais presente em hospitais brasileiros. Também foram identificados diferentes espécies de Aspergillus, fungos potencialmente patogênicos, sobretudo para indivíduos com a imunidade diminuída – caso de muitos pacientes internados em hospitais. Os ambientes explorados pelas formigas são ideais para a proliferação de fungos, por isso esses dois seres estão muitas vezes associados.

Dispersão rápida
As formigas são vetores ideais dos micro-organismos patogênicos por terem capacidade de se deslocar rapidamente e percorrer áreas extensas. Segundo Mariko Ueno, esses insetos são muito bem adaptados ao ambiente urbano e sua rápida dispersão faz com que elas se encontrem também em hospitais. O fato de esses estabelecimentos muitas vezes serem vizinhos de residências também contribui para isso.

“As formigas muitas vezes migram para aparelhos eletrônicos e embalagens de medicamentos em busca de estabilidade térmica e condições ideais para formação de ninhos”, afirma Ueno. “Os alimentos também funcionam como atrativo extra para essa migração.” Na avaliação dos pequisadores, os resultados mostram que a infestação por formigas é mais um problema sério que deve ser encarado pelos hospitais.


Isabela Fraga
Ciência Hoje On-line


Espécie de préa sobrevive sem variedade genética

Pesquisadores brasileiros descobriram uma espécie que, após 8.000 anos isolada mantendo uma população de cerca de 40 indivíduos, praticamente não apresenta mais diversidade genética.

Os animais são tão parecidos entre si que um teste de paternidade através do DNA, como o utilizado em humanos, não seria viável entre eles.

Os preás da ilha catarinense vivem muito bem, obrigado, em uma área equivalente à de um campo de futebol --menos de um hectare. Pelas teorias genéticas tradicionais, ela deveria estar extinta há tempos.


Carlos Salvador/Parque Estadual da Serra do Tabuleiro

Preá macho da ilha de Moleques do Sul, localizada em Florianópolis, é um dos cerca de 40 animais identificados pelos pesquisadores.

Parece claramente ser o caso mais extremo conhecido de uma espécie vivendo tanto tempo com uma população tão pequena", diz o geneticista Sandro Bonatto, da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio Grande do Sul.

"Pelos padrões clássicos, ela não poderia estar viva. Esses animais podem mudar nossa compreensão da biologia das pequenas populações."

Os pesquisadores encontraram os animais em uma das ilhas do arquipélago de Moleques do Sul, a 8 km da ponta sul da ilha de Florianópolis.

A espécie, a Cavia intermedia, é prima do preá que fica no litoral do continente, a Cavia magna. Uma possibilidade é que, após o término da última era do gelo, há cerca de 8.000 anos, quando o nível do mar subiu, elas tenham se separado.

Os poucos indivíduos ilhados deram, então, origem a uma nova espécie, que com o tempo se adaptou às condições da ilha: pouco espaço, vegetação baixa e nenhum predador.

O pouco espaço resultou numa população pequena. A ilha tem cerca de dez hectares, mas boa parte do terreno é rochoso. Sobra para os preás um décimo disso, em uma área com grama. Essa vegetação baixa fez com que eles ficassem menores do que os seus primos, que têm acesso a mais comida.

Os preás são os únicos mamíferos da ilha. A ausência de predadores, aliada à estabilidade climática do local -aparentemente nenhuma catástrofe natural aconteceu nos últimos tempos por lá-, permitiu milênios de sossego.

Os cientistas sabem que a população nunca foi grande porque todos são geneticamente parecidos, como se toda a espécie fosse uma grande família.

Para verificar a proximidade genética entre os preás, o grupo de Bonatto recorreu ao mesmo tipo de exame de DNA usado em testes de paternidade.

"É uma das menores diversidades genéticas observadas no reino animal", diz Ricardo Kanitz, também da PUCRS.

O incesto, portanto, é comum. Em humanos, filhos de parentes podem nascer com alguns tipos de deformação.

Não é o caso desses animais: como a população é muito pequena, os cruzamentos que poderiam gerar filhotes defeituosos já aconteceram e os alelos (versões de um mesmo gene) que poderiam causar problemas já foram eliminados pela seleção natural.

É normal, portanto, que um filhote seja filho de irmãos.

Essas deformações não são frequentes o suficiente para extinguir uma espécie, mas a inexistência delas é sinal de que os preás se adaptaram à sobrevivência em um pequeno grupo.

Ameaças

Como qualquer grupo pequeno e isolado, entretanto, os bichos correm riscos. A ilha está dentro do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, o que deveria limitar o acesso a ela. Mas, na prática, não é assim.

"Alguns pescadores vão lá, usam como base para trabalhar. O perigo é soltar um gato, um cachorro ou algo assim sem querer e ele acabar com os preás", diz Bonatto.

Além de gatos fujões, eventuais catástrofes naturais também oferecem perigo aos preás. "Um furacão, por exemplo, poderia matar todos", diz Bonatto.

E um já aconteceu, em 2004. Além de Bonatto e Kanitz, participou do trabalho Carlos Salvador, então na Universidade Federal de Santa Catarina.

Ao contrário dos preás, todas as espécies com poucos indivíduos vistas até hoje estavam no rumo da morte, fosse natural, fosse por ação humana.

"Alguns trabalhos afirmam que uma espécie, para sobreviver a longo prazo, deveria ter no mínimo 500 indivíduos", diz Kanitz. "Talvez os preás proporcionem lições importantes de estratégias de conservação", concorda Bonatto.

Fonte: FOLHAONLINE

sábado, 7 de março de 2009

Como funciona o protetor solar?

Esse produto atua como um guarda-sol invisível para a nossa pele


Para muitos de nós, ele é companhia apenas na praia, mas deveria estar grudado na gente durante a prática de qualquer atividade ao ar livre. O protetor solar não só previne queimaduras doloridas como também é um aliado para evitar doenças causadas pela exposição aos raios solares.

O Sol é fonte de luz e calor, que beneficia a Terra. Porém, ele emite uma radiação chamada ultravioleta, que é altamente energética, e que, em excesso, pode alterar a composição das células da pele. Esse órgão, a pele, que recobre o corpo inteiro, tem suas células renovadas o tempo todo e essas células novas expostas ao sol em excesso podem nascer modificadas e dar origem a outras células com alterações. A pele, então, pode vir a apresentar manchas, enrugar e até desenvolver doenças como o câncer.

Por isso, o uso do protetor solar é muito importante. Ele funciona como um guarda-sol invisível para nossa pele. Em sua fórmula, há substâncias que absorvem a energia luminosa do Sol e a transforma, por exemplo, em calor.

Existe, também, um produto similar ao protetor chamado de bloqueador solar. Como sugere o nome, ele atua como uma barreira, evitando que a radiação do Sol penetre na pele. Em sua composição, há substâncias químicas – como dióxido de titânio e óxido de zinco – que refletem o excesso de luz solar.

Proteger a pele é importante desde cedo porque as alterações provocadas nesse órgão são cumulativas. Isso quer dizer que: se ao longo da vida você se expuser ao Sol sem proteção, com mais idade, as chances de ter uma pele envelhecida precocemente ou um câncer de pele serão maiores.

O Sol é um ótimo aliado, estimula a formação de vitamina D, que é responsável pela fixação de cálcio nos ossos. Porém, é preciso ficar de olho nos horários. De dez da manhã às dezesseis horas, a intensidade da radiação solar é grande, sendo que ao meio-dia é o máximo. Portanto, fuja da exposição solar nestas horas e use sempre protetor ou bloqueador solar!

Elisabete Pereira dos Santos
Faculdade de Farmácia
Universidade Federal do Rio Janeiro

Afinal, quantas células tem o cérebro humano?

Dados recentes de contagem celular absoluta desmancham mitos da neurociência, mostra colunista


O criacionismo, do qual tanto se fala hoje em dia, atribui a Deus a criação de todas as coisas, dos seres humanos em especial. Trata-se de uma tese baseada na fé, digna de respeito como qualquer crença, mas que se choca com a abordagem científica da natureza, especialmente com a teoria da evolução estabelecida tão firmemente por Charles Darwin (1809-1882), o naturalista inglês que percorreu o mundo – inclusive o Brasil.

Parafraseando o Marquês de Laplace (1749-1827), eminente físico francês: Deus não é uma hipótese necessária para a teoria da evolução. Conta-se que uma frase semelhante a essa foi dita por ele em resposta a Napoleão Bonaparte que, lendo seus trabalhos, indagou-lhe: – “Não vi a presença do Criador em suas obras, marquês”. Ao que Laplace respondeu: – “A hipótese divina, senhor, de fato explica tudo; no entanto, não permite prever nada. Como cientista, minha função é produzir trabalhos que permitam previsões.”

A precisa definição sobre a natureza da ciência que Laplace utilizou se aplica como uma luva aos resultados a que chegamos recentemente, Suzana Herculano-Houzel e eu, por meio da tese de mestrado do aluno Frederico Azevedo, no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Nossa intenção inicial era testar a exatidão do número de neurônios estimado para o cérebro humano em todos os livros de neurociência: cem bilhões. Esse número foi sempre considerado tão verdadeiro, que eu mesmo me senti seguro em dar esse título a um livro que publiquei há oito anos e a esta coluna da Ciência Hoje On-line.

No entanto, ao rever a literatura especializada, concluímos que não havia, na verdade, qualquer evidência científica sólida para esse número. E mais: os livros declaravam sempre que, para cada neurônio do cérebro, existiriam 10 células gliais, os elementos coadjuvantes dos neurônios nas funções cerebrais. E, também neste caso, nenhuma evidência científica.

A foto de cima representa todos os núcleos das células cerebrais, com seu DNA marcado em azul, em uma amostra de contagem segundo o nosso método. A foto de baixo mostra apenas os núcleos daquelas que são neurônios, no mesmo campo, apontadas em cima pelas setas amarelas. Como cada célula cerebral tem apenas um núcleo, contá-los permite determinar a quantidade total de células.

Novo método de contagem
A motivação em encontrar evidências para esse número nos levou a inventar um método de contagem absoluta de células do cérebro de qualquer animal, com alto grau de confiabilidade. Testamos o método em ratos, depois o aplicamos a diferentes espécies de roedores. Suzana fez o mesmo para diferentes espécies de primatas, e aí a coisa começou a ficar interessante do ponto de vista da teoria da evolução.

É que, quando se correlaciona o tamanho do cérebro com o seu número de neurônios e de células não-neuronais, encontra-se uma regra matemática precisa, chamada “regra de escala”, característica de cada grande grupo de animais. Na ordem dos roedores, por exemplo, o número de neurônios cresce proporcionalmente ao tamanho do cérebro, e a função matemática que descreve essa correlação é uma função potência.


O cérebro dos roedores cresce mais para um menor acréscimo de neurônios do que o cérebro dos primatas, que atinge grandes números de neurônios em um tamanho menor de cérebro.

Na ordem dos primatas, diferentemente, o número de neurônios também cresce proporcionalmente ao tamanho do cérebro, mas a função matemática é uma função linear. Isso significa que, se existisse um roedor com 100 bilhões de neurônios, este teria um cérebro de 45 quilos e um corpo de 110 toneladas!

Foi mais vantajoso, então, durante a evolução, tirar vantagem de uma ordem de animais – os primatas – cuja regra de escala é linear, porque neste caso o aumento do número de células não exige aumento tão absurdo do tamanho do cérebro e do corpo.

Uma característica das regras de escala é que elas permitem prever o número de neurônios ou de células não-neuronais de qualquer roedor, ou de qualquer primata, mesmo sem contar diretamente essas células. É a beleza do raciocínio científico tão bem enfatizado por Laplace.

E o cérebro humano?
Muito bem. E o cérebro humano? Nossa primeira abordagem foi aplicar a ele a regra de escala dos primatas. Quantos neurônios, de acordo com a função linear determinada, deveria ter um primata com um cérebro de 1,5 quilo, o peso aproximado do cérebro humano? Bingo! O resultado estimado ficou perto dos cem bilhões.

Neste caso, porém, não poderíamos parar na estimativa, porque os evolucionistas acreditavam que o cérebro humano é especial: um cérebro enorme, muito maior do que o de qualquer outro primata, para um corpo relativamente pequeno, pelo menos em comparação com os orangotangos e gorilas. O cérebro humano devia ser um ponto fora da curva, um objeto especial na natureza!

Números absolutos de neurônios e células não-neuronais nas principais regiões do cérebro humano. Modificado de Azevedo e colaboradores (2009).

Nosso aluno Fred obteve cérebros masculinos fornecidos pelo Banco de Cérebros da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), pertencentes a homens de 50-70 anos de idade, falecidos de causas não-neurológicas e sem comprometimento mental de qualquer tipo.

Fred levou um ano para padronizar a técnica para o material humano e, no ano seguinte, conseguiu determinar o número médio de neurônios: 86 bilhões, abaixo do “número mágico” aceito até o momento.

E mais: não era verdade que o número de células não-neuronais seria 10 vezes maior do que o de neurônios. Encontramos, em vez disso, uma proporção de 1 para 1. Outro mito desfeito.

O mais importante de tudo é que os números obtidos experimentalmente puderam ser colocados na função matemática de escala dos primatas e casaram perfeitamente! A conclusão é que os seres humanos têm um número de neurônios previsível para o tamanho de cérebro que possuem. Não temos, assim, nada de excepcional: somos beneficiários da evolução das espécies, que selecionou uma ordem de animais cujo número de neurônios pode crescer de modo mais compacto que os demais, sem exagerar no tamanho do cérebro. E ainda temos a sorte de sermos, dentre os primatas, a espécie com o maior cérebro.

Agora, a ciência que pratico com tanto prazer me criou um problema: como faço com o título de meu livro e desta coluna, que se tornaram inexatos? Estou aberto às sugestões dos leitores. Que título poderei usar para a nova edição que sairá este ano, e para a continuidade da coluna? Mande suas ideias para rlent@anato.ufrj.br .

SUGESTÕES PARA LEITURA
F.A.C. Azevedo e colaboradores (2009) Equal numbers of neuronal and non-neuronal cells make the human brain an isometrically scaled-up primate brain. Journal of Comparative Neurology vol. 513: pp. 532-541.
S. Herculano-Houzel e colaboradores (2007) Cellular scaling rules for primate brains. Proceedings of the National Academy of Sciences of the USA vol. 104: pp. 3562-3567.
S. Herculano-Houzel e R. Lent (2005) Isotropic fractionator: A simple, rapid method for the quantification of total cell and neuron numbers in the brain. Journal of Neuroscience vol. 25: pp. 2518-2521.
R. Lent (2002) Cem Bilhões de Neurônios. Editora Atheneu, Rio de Janeiro, 698 pp.



Roberto Lent
Professor de Neurociência
Instituto de Ciências Biomédicas
Universidade Federal do Rio de Janeiro
27/02/2009


Quer saber mais sobre vulcões e sobre terremotos?

terremoto

Confira os posts sobre o assunto! Conheça causas, efeitos e entenda o que são essas manifestações da natureza!
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Vulcões e terremotos

Os vulcões e terremotos representam as formas mais enérgicas e rápidas de manifestação dinâmica do planeta. Ocorrem tanto em áreas oceânicas como continentais, e são válvulas de escape que permitem o extravasamento repentino de energias acumuladas ao longo de anos, milhares ou milhões de anos. Esses eventos são sinais de que, no interior da Terra, longe dos nossos olhos e instrumentos de pesquisa, ocorrem fenômenos dinâmicos que liberam energia e se refletem na superfície, modificando-a. Por outro lado, também existem formas lentas de manifestação da dinâmica interna terrestre. As placas tectônicas, conforme a teoria da Tectônica de Placas, incluem continentes e partes de oceanos, que movem-se em mútua aproximação ou distanciamento, a velocidades medidas de alguns centímetros por ano, assim contribuindo para a incessante evolução do relevo e da distribuição dos continentes e oceanos na superfície terrestre.

Fonte: http://www.ibb.unesp.br/departamentos/Zoologia/material_didatico/prof_marcello/Geologia/Terra_Dinamica

Saiba mais, lendo os posts sobre vulcões e terremotos!

Abaixo, entenda a Escala Richter!

Escala Richter

Escala Richter

Vídeo sobre terremotos e vulcões