Charles Darwin |
Charles Robert Darwin, ( 12 de
fevereiro de 1809 — Downe, Kent, 19 de Abril de 1882)
foi um naturalista britânico que alcançou fama ao convencer a comunidade
científica da ocorrência da evolução e propor uma teoria para explicar como ela se
dá por meio da seleção natural e sexual. Esta
teoria culminou no que é, agora, considerado o paradigma central para
explicação de diversos fenômenos na biologia. Foi laureado
com a medalha Wollaston concedida pela Sociedade Geológica de Londres, em 1859.
Darwin começou a se interessar por história natural na
universidade enquanto era estudante de Medicina e, depois, Teologia. A sua viagem de cinco anos a bordo do
brigue HMS Beagle e escritos
posteriores trouxeram-lhe reconhecimento como geólogo e fama como escritor.
Suas observações da natureza levaram-no ao estudo da diversificação das
espécies e, em 1838, ao desenvolvimento da teoria da Seleção Natural. Consciente de
que outros antes dele tinham sido severamente punidos por sugerir ideias como
aquela, ele as confiou apenas a amigos próximos e continuou a sua pesquisa
tentando antecipar possíveis objeções. Contudo, a informação de que Alfred Russel Wallace tinha desenvolvido uma ideia similar forçou a publicação
conjunta das suas teorias em 1858.
Em seu livro de 1859,
"A Origem das Espécies" (do original, em inglês, On
the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of
Favoured Races in the Struggle for Life), ele introduziu a ideia de evolução a partir de um ancestral comum, por meio de seleção natural. Esta se tornou a
explicação científica dominante para a diversidade de espécies na natureza. Ele
ingressou na Royal Society e continuou a sua
pesquisa, escrevendo uma série de livros sobre plantas e animais, incluindo a espécie
humana, notavelmente "A descendência do Homem e Seleção em relação ao Sexo" (The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex,
1871) e "A
Expressão da Emoção em Homens e Animais" (The
Expression of the Emotions in Man and Animals, 1872).
Em reconhecimento à
importância do seu trabalho, Darwin foi enterrado na Abadia de Westminster, próximo a Charles Lyell, William Herschel e Isaac Newton. Foi uma das cinco pessoas não ligadas
à família real inglesa a ter um funeral de Estado no século XIX.
Darwin com 7 anos, em 1816 |
Charles Darwin nasceu na casa da sua família em Shrewsbury, Shropshire, Inglaterra, em 12 de fevereiro de 1809. Foi o quinto dos seis filhos do médico Robert Darwin e sua esposa Susannah Darwin. Seu avô paterno foi Erasmus Darwin e seu avô materno o ceramista Josiah Wedgwood, ambos pertencentes à proeminente e abastada família Darwin-Wedgwood e à elite intelectual da época. Sua mãe morreu quando ele tinha oito anos. No ano seguinte, em 1818, Darwin foi enviado para a escola Shrewsbury. Interessava-se então apenas em colecionar minerais, insetos e ovos de pássaros, caça, cães e ratos.
Em 1825, depois de
passar o verão como médico aprendiz ajudando seu pai no tratamento dos pobres
de Shropshire, Darwin foi estudar medicina na Universidade de
Edimburgo. Contudo, sua aversão à brutalidade
da cirurgia da época levou-o a
negligenciar seus estudos médicos. Na universidade, aprendeu taxidermia com John Edmonstone, um
ex-escravo negro, que lhe narrava sobre as florestas tropicais na América do Sul. Em seu segundo ano, Darwin se tornou
ativo participante de sociedades estudantis para naturalistas. Participou, por
exemplo, da Sociedade
Pliniana, onde se liam comunicações sobre
história natural. Nesta época foi pupilo de Robert Edmond Grant, um pioneiro no desenvolvimento das teorias de Jean-Baptiste Lamarck e do seu avô Erasmus Darwin sobre a evolução de características
adquiridas. Darwin tomou parte
das investigações de Grant a respeito do ciclo de vida de animais marinhos.
Tais investigações contribuíram para a formulação da teoria de que todos os
animais possuem órgãos similares e diferem apenas em complexidade. No curso de
história natural de Robert Jameson estudou geologia estratigráfica. Estudou
depois a classificação de plantas, enquanto ajudava nos trabalhos com as
grandes coleções do Museu da Universidade de Edimburgo.
Em 1827 seu pai,
decepcionado com a falta de interesse de Darwin pela medicina, matriculou-o em
um curso de bacharelado em artes na Universidade de
Cambridge, para que ele se tornasse um clérigo. Nesta época, clérigos tinham uma renda
que lhes permitia uma vida confortável, e muitos eram naturalistas, uma vez
que, para eles, "explorar as maravilhas da criação de Deus" era uma
de suas obrigações. Em Cambridge, entretanto, Darwin
preferia cavalgar e atirar, ao invés de estudar. Passava muito do seu tempo
coletando besouros com seu primo William Darwin Fox. Este o apresentou ao
reverendo John Stevens Henslow, professor de botânica e especialista em
besouros que, mais tarde, viria a se tornar seu tutor. Darwin ingressou no
curso de história natural de Henslow e se tornou um de seus alunos prediletos.
Nesta época Darwin se interessou pelas ideias de William Paley, em
particular a noção de projeto divino na natureza. Em suas provas finais em janeiro de
1831, ele se saiu muito bem em teologia e, mesmo tendo feito apenas o
suficiente para passar no estudo de clássicos, matemática e física, foi o
décimo colocado entre 178 aprovados.
Seguindo os conselhos
e exemplo de Henslow, Darwin não se apressou em ser ordenado. Inspirado pela
narrativa de Alexander von Humboldt, ele planejou se juntar a alguns colegas e visitar a Tenerife para
estudar história natural dos trópicos. Como preparação, Darwin ingressou no
curso de Geologia do reverendo Adam Sedgwick, um
forte proponente da teoria de projeto divino, e viajou com ele como um
assistente no mapeamento estratigráfico no País de Gales. Contudo, seus planos de viagem à Ilha da Madeira foram subitamente
desfeitos ao receber uma carta que lhe informava a morte de um dos seus
prováveis colegas de viagem. Outra carta, entretanto, recebida ao retornar para
casa, o colocaria novamente em viagem. Henslow havia recomendado que Darwin
fosse o acompanhante de Robert Fitz Roy, capitão
do barco inglês HMS Beagle, em uma expedição de
dois anos que deveria mapear a costa da América do Sul. Isto lhe daria a oportunidade de
desenvolver a sua carreira como naturalista. Esta se tornaria uma expedição de
quase cinco anos que teria profundo impacto em muitas áreas da Ciência.
HMS Beagle na Austrália (centro) |
A viagem do Beagle durou quatro anos e nove meses, dois terços dos quais Darwin esteve em terra firme. Darwin estudou uma grande variedade de características geológicas, fósseis, organismos vivos e conheceu muitas pessoas, entre nativos e colonos. Coletou metodicamente diversos espécimes, muitos dos quais novos para a ciência. Isto estabeleceu sua reputação como naturalista e fez dele um dos precursores do campo da ecologia, particularmente a noção de biocenose. Suas anotações detalhadas mostraram seu dom para a teorização, formatando a base para seus trabalhos posteriores, fornecendo visões sociais, políticas e antropológicas sobre as regiões visitadas.
Durante a viagem
Darwin leu o livro "Princípios
da Geologia" de Charles Lyell, que
descrevia características geológicas como resultado de processos graduais
ocorrendo ao longo de grandes períodos de tempo. Ele escreveu para casa que via
formações naturais como se através dos olhos de Lyell: degraus planos de pedras
com o aspecto característico de erosão por água e conchas na Patagônia eram sinais claros de
praias que haviam se elevado; no
Chile, ele experimentou um terremoto e observou pilhas de mexilhões encalhadas acima da
maré alta o que mostrava que toda a área havia sido elevada; e mesmo no alto
dos Andes ele foi capaz de coletar conchas. Darwin ainda teorizou que
atóis de coral iam se formando gradualmente em montanhas vulcânicas à medida
que estas afundavam no mar, uma ideia confirmada posteriormente quando o Beagle
esteve nas ilhas Cocos (keeling).
Na América do Sul Darwin descobriu
fósseis de animais extintos como o megatério e o gliptodonte, em camadas que não mostravam
quaisquer sinais de catástrofe ou mudanças climáticas. Naquele tempo Darwin
pensava que aquelas eram espécimes similares às encontradas na África mas, após a sua
volta, Richard Owen lhe mostrou que os fósseis encontrados eram
mais similares a animais não extintos e que viviam na mesma região (preguiças e tatus). Na Argentina, duas espécies de ema viviam em territórios separados mas compartilhavam áreas comuns.
Nas ilhas Galápagos, Darwin descobriu
que cotovias (mockingbirds)
diferiam de uma ilha para outra. Ao retornar à Inglaterra, foi lhe mostrado
que o mesmo ocorria com as tartarugas e tentilhões. O rato-canguru e o ornitorrinco, encontrados na Austrália, eram animais tão
estranhos que levaram Darwin a pensar que "Um incrédulo... poderia dizer
que 'seguramente dois criadores diferentes estiveram em ação'". Todas
estas observações o deixaram muito intrigado e, na primeira edição de "A Viagem do Beagle", ele explicou a distribuição das espécies à luz da teoria
de Charles Lyell de "centros de criação". Em edições posteriores, ele
já dava indicações de como via a fauna encontrada nas Ilhas Galápagos como
evidência para a evolução: "é possível imaginar que algumas espécies de
aves neste arquipélago derivam de um número pequeno de espécies de aves
encontradas originalmente e que se modificaram para diferentes
finalidades".
Três nativos foram
trazidos de volta pelo Beagle para a Terra do Fogo. Eles
tinham sido "civilizados" na Inglaterra nos dois anos anteriores,
ainda que os seus parentes parecessem à Darwin selvagens pouco acima de outros
animais. Em um ano, entretanto,
aqueles missionários voltaram ao que eram e, de fato, preferiam esta condição
uma vez que não quiseram retornar à Inglaterra. Esta experiência somada a repulsa de
Darwin pela escravidão e outros abusos que
ele viu em vários lugares, tais como o tratamento desumano dos nativos por
colonos ingleses na Tasmânia, o persuadiram de que não há justificativa moral
para maltratar outros homens baseado no conceito de raça. Ele passou então a
acreditar que a humanidade não se encontrava tão distante dos outros animais
como diziam seus amigos do clero.
A bordo do barco,
Darwin sofria constantemente de enjoo. Em outubro de 1833 ele pegou uma febre
na Argentina e em julho de 1834, enquanto retornando dos Andes a Valparaíso,
adoeceu e ficou um mês de cama. De 1837 em diante, Darwin passou a sofrer
repetidamente de dores estomacais, vômitos, graves tremores, palpitações, e
outros sintomas. Estes sintomas se agravavam particularmente em épocas de
estresse, tais como quando tinha de lidar com as controvérsias relacionadas à
sua teoria. A causa da doença de Darwin foi desconhecida durante a sua vida e
tentativas de tratamento tiveram pouco sucesso. Uma ideia esposada por
Kettlewell e Julian Huxley, no início da década de 1960, defende que ele
contraiu a Doença de Chagas ao ser picado por um inseto na América do Sul. No entanto, os
autores reconhecem que especialistas nessa doença indicam que não há
concordância dos sintomas de Darwin com os da doença. Outras possíveis causas
incluem problemas psicológicos e a doença de Ménière.
Charles casou com a sua prima Emma Wedgwood. |
Enquanto Darwin ainda estava em viagem, Henslow cuidadosamente cultivou a reputação de seu antigo pupilo fornecendo a vários naturalistas os espécimes fósseis e cópias impressas das descrições geológicas que Darwin fazia. Quando o Beagle retornou em 2 de outubro de 1836, Darwin era uma celebridade no meio científico. Ele visitou a sua casa em Shrewsbury e descobriu que seu pai havia feito vários investimentos de forma que Darwin pudesse ter uma vida tranquila. Mais que isto, ele poderia ter uma carreira científica autofinanciada. Darwin foi então a Cambridge e convenceu Henslow a fazer descrições botânicas das plantas que ele havia coletado. Depois se dirigiu a Londres onde procurou os melhores naturalistas para descrever as suas outras coleções de forma a poder publicá-las posteriormente. Um entusiasmado Charles Lyell encontrou Darwin em 29 de outubro e o apresentou ao jovem e promissor anatomista Richard Owen. Depois de trabalhar na coleção de ossos fossilizados de Darwin no Royal College of Surgeons, Owen surpreendeu a todos ao revelar que alguns dos ossos eram de tatus e preguiças gigantes extintas. Isto melhorou a reputação de Darwin. Com a ajuda entusiasmada de Lyell, Darwin apresentou seu primeiro artigo na Geological Society de Londres em 4 de janeiro de 1837, afirmando que a massa terrestre da América do Sul estava se erguendo lentamente. No mesmo dia, Darwin apresentou seus espécimes de mamíferos eaves à Zoological Society. Os mamíferos ficaram aos cuidados de George R. Waterhouse. Embora, em princípio, os pássaros parecessem merecer menos atenção, o ornitólogo John Gould revelou que o que Darwin pensara serem corruíras (wrens), melros e tentilhões levemente modificados de Galápagos eram de fato tentilhões, mas cada um de uma espécie distinta. Outros no Beagle, incluindo o capitão FitzRoy, também tinham coletado estes pássaros mas haviam sido mais cuidadosos com suas anotações, o que permitiu a Darwin determinar de que ilha cada espécie era originária.
Em Londres, Darwin
ficava com o seu irmão e livre pensador Erasmus e,
em jantares, eles encontravam-se com outros pensadores que imaginavam um Deus
guiando a sua criação unicamente por meio de leis naturais. Entre eles, estava a
escritora Harriet Martineau, cujas histórias promoviam a
reforma das leis de proteção social de acordo com as ideias de Malthus. Nos meios científicos, ideias como a
transformação de uma espécie em outra (transmutação) eram controversamente
associadas com radicalismo político. Por isto, Darwin preferia a
respeitabilidade de seus amigos mesmo quando não concordava plenamente com as
ideias deles, tais como a crença de que a história natural devesse justificar
religiões ou ordem social.
Em 17 de fevereiro de
1837, Lyell aproveitou o seu discurso presidencial na Geological
Society para
apresentar as descobertas de Owen em relação aos fósseis de Darwin, enfatizando
as implicações do fato de que espécies extintas encontradas em uma região
fossem relacionadas a outras que viviam atualmente na mesma região. Neste mesmo encontro, Darwin foi
eleito para o conselho da Geological Society. Ele já tinha sido convidado por
FitzRoy para contribuir com o seu diário e notas pessoais para a seção de
história natural do livro que o capitão estava escrevendo sobre a viagem do
Beagle. Darwin também estava trabalhando em um livro sobre a geologia da
América do Sul. Ao mesmo tempo, ele especulava sobre a transmutação de espécies
no caderno de anotações que ele tinha iniciado no Beagle. Outro projeto que ele
iniciou na mesma época foi a organização dos relatórios dos vários
especialistas que haviam trabalhado em suas coleções em um livro de múltiplos
volumes chamado "Zoologia da viagem do H.M.S. Beagle" (Zoology of the Voyage of H.M.S. Beagle). Darwin
concluiu o seu diário em 20 de junho e, em julho, iniciou seu livro secreto
sobre transmutação, onde desenvolveu a hipótese de que, apesar de cada ilha de
Galápagos ter sua própria espécie de tartaruga, todas elas eram originárias de
uma única espécie que tinha se adaptado à vida nas diferentes ilhas de
diferentes modos.
Sob a pressão de
concluir Zoologia e corrigir as
revisões de seu diário, a saúde de Darwin deteriorou. Em 20 de setembro de
1837, ele sofreu palpitações do coração e foi passar um mês no campo para se
recuperar. Ele visitou Maer Hall onde sua tia inválida estava sob os cuidados
de sua irmã Emma Wedgwood e entreteve seus
parentes com as histórias de suas viagens. Após o seu retorno do campo, ele
evitava tomar parte de eventos oficiais que poderiam lhe tomar um tempo
precioso. Contudo, por volta de março de 1838, William Whewell o recrutou como
secretário da Geological
Society. Mas logo a sua doença o forçou a novamente deixar seu
trabalho e ele seguiu para Escócia para "fazer
geologia". Ali, visitou o desfiladeiro conhecido como Glen Roy,
para estudar o fenômeno conhecido como "estradas " (roads)
paralelas de Glen Roy,(incorretamente) identificadas por ele, como antigas
praias marinhas que se elevaram. Anos mais tarde, estes terraços
geológicos foram identificados como tendo sido originados pela ação de um
lago glacial, que teve seu nível de águas reduzido mediante eventos geológicos,
os quais se intercalaram por períodos de tempo suficientes para que sedimentos
geológicos fossem depositados em suas encostas, formando praias. Os sedimentos
destas praias, com a diminuição das águas, ficaram expostos, solidificando-se
em terraços conhecidos como "estradas", devido a sua grande extensão
e retidão.
Completamente
recuperado, ele retornou a Shrewsbury. Raciocinando cientificamente sobre a sua
carreira e ambições, ele fez uma lista com as colunas "Casar" e
"Não casar". Entradas na coluna pró-casamento incluíam
"companhia constante e um amigo na velhice ... melhor que um cão de
qualquer modo," enquanto listado entre as desvantagens estavam "menos
dinheiro para livros" e "terrível perda de tempo". Os prós
venceram. Ele discutiu a ideia de casar com o pai e então foi visitar sua prima
Emma em 29 de julho de 1838. Ele não propôs casamento mas, contrariando os
conselhos do pai, contou-lhe sobre as suas ideias de transmutação de espécies.
Enquanto os seus pensamentos e trabalho continuavam em Londres, durante o
outono, sua saúde voltou a definhar e ele passou a sofrer repetidas crises. Em
11 de novembro ele pediu Emma em casamento e, uma vez mais, lhe falou de suas
ideias. Ela aceitou mas permaneceria sempre preocupada que os lapsos de fé de
Darwin acabariam por pôr em risco a possibilidade de, como ela acreditava, se
encontrarem após a morte.
Darwin considerou o
raciocínio de Malthus de
que a população humana aumenta mais rapidamente que a produção de alimentos,
levando-a a uma competição e tornando qualquer esforço de caridade inútil. Ele
viu naquela ideia uma forma de explicar (a) seus achados sobre espécies
extintas que se relacionavam mais com outras não extintas encontradas na mesma
região, (b) a similaridade entre espécies próximas umas das outras, (c) suas
dúvidas derivadas da criação de animais e (d) sua incerteza quanto a existência
de uma "lei de harmonia" na natureza. No fim de novembro de 1838, ele
começou a comparar o processo de seleção de características feito por criadores
de animais com uma natureza Malthusiana selecionando variantes aleatoriamente
de forma que "toda a parte de uma nova característica adquirida é colocada
em prática e aperfeiçoada", e pensou nisto como "a mais bela parte da
minha teoria" de como novas espécies se originam. Ele estava procurando
uma casa e acabou por encontrar "Macaw Cottage" na rua Gower,
Londres, e então mudou seu "museu" para lá em dezembro. Ele já
mostrava sinais de cansaço e Emma lhe escreveu sugerindo que ele descansasse,
comentando quase profeticamente "Não adoeça mais meu querido Charley até
que eu esteja aí para cuidar de você". Em 24 de janeiro de 1839, Darwin
foi eleito membro da Royal Society e apresentou seu
artigo sobre as "estradas" de Glen Roy.
Casamento e filhos
Em
29 de janeiro de 1839, Darwin casou com sua prima Emma Wedgwood em Maer. Depois de primeiro morar em Gower
Street, Londres, o casal mudou para Down House em Downe em 17 de setembro de 1842. Os Darwin
tiveram dez filhos, três dos quais morreram prematuramente. Muitos deles e de
seus netos alcançaram notabilidade.
Evolução por seleção natural
Darwin era agora um eminente geólogo no
meio científico formado por clérigos naturalistas, com uma renda segura e
trabalhando secretamente em sua teoria. Ele tinha muito a fazer, escrevendo
sobre todos os seus achados e supervisionando a preparação dos vários volumes
da "Zoologia" que deveriam descrever as suas coleções. Ele estava
convencido da ocorrência da evolução mas, desde muito tempo, sempre esteve
consciente de que a ideia de transmutação de espécies era vista como uma
blasfêmia, bem como era associada com agitadores democráticos radicais na
Inglaterra; portanto, a publicação de suas ideias poderia significar a
demolição de sua reputação e, consequentemente, a sua ruína. Assim, ele fazia
experimentos minuciosos com plantas e consultava frequentemente muitos
criadores de animais, incluindo criadores de pombos e porcos, na
tentativa de encontrar respostas convincentes para todos os contra-argumentos
que ele conseguia antever.
Quando FitzRoy publicou seu livro sobre a
viagem do Beagle em maio de 1839, o diário e comentários de Darwin foram um
grande sucesso. Mais tarde naquele ano, o diário foi publicado isoladamente em
um livro que se tornou um sucesso de vendas hoje conhecido como "A Viagem do Beagle" (The Voyage of the Beagle).
Em Dezembro de 1839, durante a primeira gravidez de Emma, a saúde de Darwin
voltou a ficar comprometida e ele conseguiu avançar muito pouco em seus
trabalhos no ano seguinte.
Darwin tentou explicar sua teoria para
amigos mais próximos, mas eles demoraram a mostrar interesse e pensavam que uma
seleção exige um selecionador divino. Em 1842 a família se moveu para a sua
casa no campo (Down House) para escapar da pressão de Londres. Ali, Darwin
escreveu um pequeno texto esboçando a sua teoria que, em 1844, seria expandido
para um documento de 240 páginas intitulado "Ensaio". Darwin
completou seu terceiro livro sobre geologia em 1846. Auxiliado por um amigo, o
jovem botânico Joseph Dalton Hooker, ele
iniciou um estudo aprofundado sobre cracas.
Em 1847, Hooker leu o "Ensaio" e fez comentários que forneceram a
Darwin a opinião externa que ele precisava.
Darwin temia publicar a teoria de forma
incompleta considerando o fato de que as suas ideias sobre evolução poderiam
ser altamente controversas se, de fato, alguma atenção fosse dada a elas.
Outras ideias sobre evolução - especialmente o trabalho de Jean-Baptiste Lamarck -
tinham sido consistentemente rejeitadas pela comunidade científica britânica e
foram associadas à noção de radicalismo político. A publicação anônima de
"Vestígios
da História Natural da Criação" (Vestiges of the Natural
History of Creation) em 1844 gerou outra controvérsia sobre radicalismo e
evolução e foi severamente atacada pelos amigos de Darwin, o que assegurava que
nenhum cientista de reputação iria querer estar associado com tais ideias.
Para tentar tratar a sua doença, Darwin
foi a um spa em Malvern em 1849 e, para a sua surpresa, verificou que os dois
meses de tratamento com água o ajudaram. Em seu estudo sobre cracas ele
descobriu "homologias" que suportavam a sua teoria por mostrar que
partes de um corpo levemente modificadas poderiam servir a funções diferentes
em novos contextos. Foi então que a sua querida filha Annie adoeceu despertando
novamente os seus temores de que sua doença pudesse ser hereditária. Após um
longo sofrimento, ela morreu e Darwin perdeu toda a sua fé em um Deus
benevolente.
Nesta época, ele conheceu o jovem
naturalista, e livre pensador, Thomas
Huxley que se tornaria um amigo próximo e grande aliado. O trabalho de
Darwin sobre cracas (Cirripedia) lhe valeu a medalha real da Royal
Society em 1853, estabelecendo definitivamente a sua reputação como
biólogo. Ele completou este estudo em 1854 e voltou a sua atenção para a sua
teoria de transmutação de espécies.
Darwin, Mendel e genética
Gregor
Mendel foi o primeiro cientista a explicar os mecanismos da hereditariedade em
um experimento sobre cruzamento de ervilhas publicado em 1866. Com os seus
estudos, Mendel comprovou que as características eram determinadas por pares de
elementos, herdados de cada um dos genitores e que passavam de uma geração a outra
de forma particulada, ou seja, esses elementos permaneciam intactos. Apesar de
sua grande relevância, esse trabalho teve pouco impacto na época e passou
desapercebido aos estudiosos da evolução por quase meio século, incluindo o
próprio Darwin. Com a redescoberta dos trabalhos de Mendel no início do século
XX, os elementos envolvidos na herança foram denominados genes e a
disciplina que estuda a hereditariedade passou a ser chamar genética.
Os primeiros geneticistas, no entanto, não
acreditavam na eficácia da seleção natural como mecanismo evolutivo, mas
sim da mutação, que era mais compatível com a herança mendeliana na época. Com isso,
no início do século XX, a genética mendeliana e a evolução darwiniana eram
incompatíveis, contribuindo para o "eclipse do darwinismo". Enquanto
as ideias de Darwin se baseavam em fundamentos errôneos e não testados sobre
hereditariedade, como a herança por mistura ou de caracteres adquiridos, as
conclusões de Mendel eram fundadas em experimentação cuidadosa. Os trabalhos de
Mendel e Darwin só puderam ser reconciliados nos anos de 1930 e 1940 com a
chamada Síntese Moderna, que se baseou nos fundamentos
da genética de populações desenvolvidos
nas décadas anteriores.
Capa do livro A Origem das Espécies, de 1859 |
Darwin encontrou uma resposta para o problema de como gêneros divergem ao fazer uma analogia com as ideias de divisão de trabalho na indústria. Variedades especializadas de um gênero, ao encontrarem nichos nos quais sua especialização é mais útil, forçariam a diversificação em espécies. Ele experimentou com sementes, testando a sua habilidade de sobreviver à água salgada, para determinar se uma espécie poderia se transferir para uma ilha isolada pelo mar. Ele também passou a criar pombos para testar a sua hipótese de que a seleção natural era comparável à "seleção artificial" usada por criadores de pombos.
Foi então que, na
primavera de 1856, Lyell leu um artigo sobre a introdução de espécies escrito por Alfred Russel Wallace, um naturalista trabalhando no Bornéo. Ciente da similaridade entre este
trabalho e o de Darwin, Lyell pressionou Darwin para que publicasse o quanto
antes a sua teoria, de forma a estabelecer precedência. Apesar de sua doença,
Darwin iniciou o livro de três volumes intitulado "Seleção Natural"
("Natural Selection"), obtendo espécimes e informações de
naturalistas como Asa Gray e o próprio Wallace.
Em dezembro de 1857, quando trabalhava em seu livro, Darwin recebeu uma carta
de Wallace perguntando se ele se aprofundaria na questão das origens do homem.
Ciente dos temores de Lyell, Darwin respondeu: "Eu acho que irei evitar
completamente este assunto, uma vez que ele é rodeado de preconceitos, embora
eu admita que este é o maior e mais interessante problema para um
naturalista". Ele então encorajou Wallace a teorizar sobre o tema, dizendo
"não há observações boas e originais sem especulação". Quando o seu
manuscrito já alcançava 250 mil palavras, em junho de 1858, Darwin recebeu de
Wallace o artigo em que aquele descrevera o mecanismo evolutivo que concebera.
Wallace também solicitara a Darwin que o enviasse a Lyell. Darwin assim o fez,
embora estivesse chocado que ele tivesse sido "prevenido" do fato.
Embora Wallace não tivesse solicitado a publicação, Darwin se ofereceu para
enviar o artigo a qualquer revista que ele desejasse. Ele descreveu o que se
passava para Lyell e Hooker. Estes concordaram em uma apresentação conjunta na Lynnean
Society, em 1 de julho, do artigo intitulado "Sobre a Tendência
das Espécies de formarem Variedades; e sobre a Perpetuação das Variedades e
Espécies por Meios Naturais de Seleção" (On the Tendency of Species to
form Varieties; and on the Perpetuation of Varieties and Species by Natural
Means of Selection). Infelizmente, o filho caçula de Darwin faleceu e ele
não pôde comparecer à apresentação.
O anúncio inicial da
teoria atraiu pouca atenção. Ela foi mencionada brevemente em algumas resenhas,
mas para a maioria dos revisores era apenas mais uma entre muitas variações de
pensamento evolutivo. Nos treze meses seguintes Darwin sofreu com sua saúde precária
e fez um enorme esforço para escrever um resumo de seu "grande livro sobre
espécies". Recebendo constante encorajamento de seus amigos cientistas,
ele finalmente terminou o texto e Lyell cuidou para que o mesmo fosse publicado
por John Murray. O livro recebeu o título "Sobre a origem das espécies por meio
de seleção natural" (On the Origin of Species
by Means of Natural Selection) e, quando foi colocado à venda em 22 de
novembro de 1859, esgotou o estoque de 1250 cópias rapidamente. Naquela época,
o termo "evolucionismo" implicava criação sem intervenção divina e,
por isso, Darwin evitou usar as palavras "evolução" ou "evoluir",
embora o livro terminasse anunciando que "um número incontável das mais
belas e maravilhosas formas evoluíram e estão evoluindo". O livro só
mencionava brevemente a ideia de que seres humanos também deveriam evoluir tal
qual outros organismos. Darwin escreveu de forma propositadamente atenuada que
"luz será lançada no tocante à origem do homem e sua história".
Caricatura publicada na revista Hornet, onde Darwin é retratado como um macaco. |
O livro de Darwin iniciou uma controvérsia pública que ele acompanhou atentamente, obtendo cortes de jornais de milhares de resenhas, críticas, artigos, sátiras, paródias e caricaturas. Críticos foram rápidos em apontar as implicações não discutidas no livro de que "homens fossem descendentes de macacos" ("men from monkeys"). Entretanto, houve resenhas favoráveis, entre elas, uma publicada no The Times escrita por Huxley que incluía críticas a Richard Owen, um expoente do meio científico que Huxley estava tentando "destronar". Owen pareceu inicialmente neutro mas então escreveu um artigo condenando o livro.
O corpo científico da
Igreja da Inglaterra, incluindo os antigos tutores de Darwin em Cambridge, Sedgwick e Henslow,
reagiu contra o livro, embora ele tenha sido bem recebido por uma nova geração
de jovens naturalistas. Foi quando sete ensaios e resenhas feitas por sete
teólogos anglicanos liberais declararam que milagres eram irracionais e
atraíram a atenção para si, desviando-a de Darwin.
O confronto mais
famoso ocorreu em um encontro da Associação Britânica para o Avanço da Ciência
em Oxford. O professor John William Draper fez uma longa apresentação sobre Darwin e progresso social e,
então, Samuel Wilberforce, o bispo de Oxford, atacou as ideias de Darwin. Em um acalorado
debate, Joseph Hooker defendeu Darwin com
tenacidade e Thomas Huxley se estabeleceu como o
"bulldog de Darwin" – o mais veemente defensor da teoria evolutiva no
palco Vitoriano. Conta-se que tendo sido questionado por Wilberforce se ele
descendia de macacos por parte de pai ou de mãe, Huxley murmurou: "O
Senhor o deixou em minhas mãos" e respondeu que "preferia ser
descendente de um macaco que de um homem educado que usava sua cultura e
eloquência a serviço do preconceito e da mentira" (isto é contestado, veja Wilberforce
and Huxley: A Legendary Encounter). Logo se espalhou pelo país a
história de que Huxley teria dito que preferia ser um macaco a um bispo.
Muitas pessoas
sentiam que a visão de Darwin da natureza acabava com a importante distinção
entre homem e animais. O próprio Darwin não defendia suas ideias em público,
embora ele lesse avidamente tudo sobre o debate. Ele se encontrava
frequentemente doente e apenas fazia comentários através de cartas e
correspondência. Seu círculo central de amigos cientistas – Huxley, Hooker,
Charles Lyell e Asa Gray – ativamente
colocavam seu trabalho em discussão nos palcos científico e público,
defendendo-o de seus muitos críticos e ajudando-o a ganhar o respeito que lhe
valeu a medalha Copley da Royal Society em 1864. A teoria de
Darwin também foi usada como base para vários movimentos da época e tornou-se
parte da cultura popular. O livro foi traduzido para muitos idiomas e teve
numerosas re-impressões. Tornou-se um texto científico acessível tanto para aos
novos e curiosos cidadãos da classe média quanto para os trabalhadores e foi
aclamado como o mais controverso e discutido livro científico de todos os
tempos.
Em 1881, Darwin foi uma figura eminente, ainda trabalhando em suas contribuições ao pensamento evolutivo que teve um efeito enorme em muitos campos da ciência. |
Apesar dos sucessivos problemas de saúde que acometeram Darwin nos seus últimos vinte e dois anos de vida, ele continuou trabalhando avidamente, passando a se dedicar aos aspectos mais controversos do seu "grande livro" que ainda estavam por ser completados: a evolução da espécie humana a partir de animais mais primitivos, o mecanismo de seleção sexual que poderia explicar características de não tão óbvia utilidade além de mera beleza decorativa, bem como sugestões para as possíveis causas subjacentes ao desenvolvimento da sociedade e das habilidades mentais humanas. Seus experimentos, pesquisa e escrita continuaram.
Quando a filha de
Darwin adoeceu, ele deixou de lado o seu trabalho e experimentos com sementes e
animais para acompanhá-la em seu tratamento no campo. Ali, ele iniciaria o seu
interesse por orquídeas selvagens que se
desenvolveria em um estudo inovador sobre como as flores serviam para controlar a polinização feita pelos insetos e
garantir a fertilização cruzada. Como já observara com as cracas, partes
homólogas serviam a diferentes funções em diferentes espécies. De volta ao lar,
ele adoeceu novamente em um quarto repleto de experimentos e plantas
trepadeiras. Ainda assim, continuou o seu trabalho no livro "Variação" (Variation),
que cresceu até ocupar dois volumes, o que o forçou a deixar de lado "A descendência do Homem e Seleção em relação ao Sexo". Uma vez impresso, o livro foi muito procurado.
A questão da evolução
humana tinha sido amplamente discutida pelos seus simpatizantes (e críticos)
logo depois da publicação da "Origem das Espécies" mas a contribuição do próprio Darwin para o tema só veio
uma década mais tarde com os dois volumes de "A descendência do Homem e
Seleção em relação ao Sexo" em 1871. No segundo volume, Darwin introduziu
por completo o seu conceito de seleção sexual e explicou a evolução da cultura
humana, as diferenças entre os sexos, a diferenciação entre raças bem como a
bela plumagem dos pássaros. Um ano mais tarde, Darwin publicou seu último
grande trabalho, "The Expression of the Emotions in Man and Animals",
que era focado na evolução da psicologia humana e sua continuidade com o
comportamento animal. Ele desenvolveu a sua ideia de que a mente humana e
culturas foram desenvolvidas por meio de seleção natural e sexual, uma
abordagem que foi revivida com a emergência da psicologia evolutiva. Como ele concluiu em a "Descendência do Homem",
Darwin achava que apesar de todas as "qualidades nobres" e
"capacidades sublimes" da humanidade:
O
homem ainda traz em sua estrutura física a marca indelével de sua origem
primitiva.
|
— Darwin
|
Seus experimentos
relacionados à evolução culminaram em cinco livros sobre plantas, e então seu
último livro voltou à discussão sobre o efeito que minhocas tinham sobre o
solo.
Darwin morreu em
Downe, Kent, Inglaterra, em 19 de abril de 1882. Ele deveria ter sido enterrado
no jardim da igreja de St Mary em Downe, mas atendendo ao pedido de seus
colegas cientistas, William Spottiswoode (Presidente da Royal Society) cuidou para que ele tivesse um
funeral de estado e Darwin foi enterrado na abadia de Westminster próximo a Charles Lyell, William Herschel e Isaac Newton.
A morte da filha de Darwin, Annie, em 1851 foi o evento que minou definitivamente a crença de Darwin em um Deus benevolente |
Embora vários membros da família de Darwin fossem pensadores livres, abertamente lhes faltando crenças religiosas convencionais, ele inicialmente não duvidava da verdade literal da Bíblia. Ele frequentava uma escola da igreja da Inglaterra e, mais tarde, em Cambridge, estudou teologia Anglicana. Nesta época, ele estava plenamente convencido do argumento de William Paley de que o projeto perfeito da natureza era uma prova inequívoca da existência de Deus. Contudo, as suas crenças começaram a mudar durante a sua viagem no Beagle. Para ele, a visão de uma vespa paralisando uma larva de borboleta para que esta servisse de alimento vivo para seus ovos parecia contradizer a visão de Paley de projeto benevolente ou harmonioso da natureza. Enquanto a bordo do Beagle, Darwin era bastante ortodoxo e poderia citar a Bíblia como uma autoridade moral. Apesar disso, ele via as histórias no velho testamento como falsas e improváveis.
Ao retornar, ele
investigou a questão de transmutação de espécies. Ele sabia que seus amigos
naturalistas e clérigos pensavam em transmutação como uma heresia que
enfraquecia as justificativas morais para a ordem social e sabiam que tais
ideias revolucionárias eram especialmente perigosas em uma época em que a
posição estabelecida da igreja da Inglaterra estava sob constante ataque de
dissidentes radicais e ateus. Enquanto desenvolvia secretamente a sua teoria de
Seleção Natural, Darwin chegou mesmo a escrever sobre a religião como uma estratégia
tribal de sobrevivência, embora ele ainda acreditasse que Deus fosse o
legislador supremo. Sua crença continuou diminuindo com o passar do tempo e,
com a morte de sua filha Annie em 1851, Darwin finalmente perdeu toda a sua fé
no cristianismo. Ele continuou a ajudar a igreja local e colaborar com o
trabalho comunitário associado à igreja, mas, aos domingos, ia caminhar
enquanto sua família ia para o culto. Em seus últimos anos de vida, quando
perguntado sobre a visão que tinha a respeito da religião, ele escreveu que
nunca tinha sido um ateu no sentido de negar a existência de Deus e, portanto, se
descreveria mais corretamente como um agnóstico.
Charles Darwin contou
em sua biografia que eram falsas as afirmações de que seu avô Erasmus Darwin
teria clamado por Jesus em seu leito de morte. Darwin concluiu dizendo que
"Era tal o estado de sentimento cristão neste país [em 1802].... Nós
podemos apenas esperar que nada deste tipo prevaleça hoje". Apesar desta
crença, histórias muito parecidas circularam logo após a morte de Darwin, em
particular, uma que afirmava que ele havia se convertido logo antes de morrer.
Estas histórias foram disseminadas por alguns grupos cristãos até ao ponto de
se tornarem lendas urbanas, embora
as afirmações tenham sido refutadas pelos filhos de Darwin e sejam consideradas
falsas por historiadores.
A teoria de Darwin de
que evolução ocorreu por meio de seleção natural mudou a forma de pensar em
inúmeros campos de estudo da Biologia à Antropologia. Seu trabalho
estabeleceu que a "evolução" havia
ocorrido: não necessariamente por meio das seleções natural e sexual (isto, em particular, só foi comumente reconhecido após a
redescoberta do trabalho de Gregor Mendel no início do século XX e o
desenvolvimento da Síntese Moderna). Outros
antes dele já haviam esboçado a ideia de seleção natural: em sua vida, Darwin
reconheceu como tal os trabalhos de William Charles Wells e Patrick Matthew que
ele (e praticamente todos os outros naturalistas da época) desconheciam quando
ele publicou a sua teoria. Contudo, é claramente reconhecido que Darwin foi o
primeiro a desenvolver e publicar uma teoria
científica de Seleção Natural e que trabalhos anteriores ao seu não
contribuíram para o desenvolvimento ou sucesso da Seleção Natural como uma
teoria testável.
Apesar da grande controvérsia
que marcou a publicação do trabalho de Darwin, a evolução por seleção natural
provou ser um argumento poderoso contrário às noções de criação divina e projeto
inteligente comuns na ciência do século XIX. A ideia de que não mais havia
uma clara separação entre homens e animais faria com que Darwin fosse lembrado
como aquele que removeu o homem da posição privilegiada que ocupava no
universo. Para alguns de seus críticos, entretanto, ele continuou sendo visto
como o "homem macaco" frequentemente desenhado com um corpo de
macaco.
Reconhecimento
Ainda durante a vida
de Darwin, muitas espécies de seres vivos e elementos geográficos foram
batizados em sua homenagem, entre eles, o Monte Darwin, nos Andes, em
celebração ao seu vigésimo quinto aniversário. A capital do Northern Territory
na Austrália também foi batizada com o seu nome em comemoração à passagem do
Beagle por ali, em 1839. No mesmo território, foram batizados com o seu nome
uma universidade e um parque nacional.
As 14 espécies de
tentilhões que ele estudou em Galápagos são chamadas "tentilhões de
Darwin" em honra ao seu legado. Em 1964, foi inaugurado em Cambridge o
Darwin College em honra à sua família e, parcialmente, porque os Darwin eram os
donos do terreno usado. Em 1992, Darwin foi posicionado em décimo sexto lugar
na As 100
maiores personalidades da História,
compilada pelo historiador Michael H. Hart. Darwin também figura na nota de dez
libras introduzida pelo banco da Inglaterra em 2000 em substituição a Charles
Dickens. Sua barba impressionante e difícil de ser copiada foi apontada como um
dos fatores que contribuíram para a escolha. Darwin também aparece em quarto
lugar na 100 Greatest Britons, uma lista compilada por meio de voto popular pela BBC.
Eugenia
Seguindo a publicação da "Origem das Espécies", o primo de Darwin, Francis Galton, aplicou as ideias
de Darwin à sociedade, de forma a promover o conceito de "melhorias hereditárias".
Ele iniciou este trabalho em 1865, completando-o em 1869. Em "The Descent of Man",
Darwin concordou que Galton tivesse demonstrado que "talento" e
"genialidade" em humanos eram provavelmente herdados mas acreditava
que as mudanças sociais que ele propunha eram muito utópicas. Nem Galton nem Darwin concordavam que o Estado devesse
interferir nestas questões. Acreditavam que, no máximo, a hereditariedade
deveria ser considerada na escolha de cônjuges. Em 1883, depois da morte de
Darwin, Galton começou a chamar a sua filosofia social de Eugenia. No século XX,
movimentos de eugenia ganharam popularidade em vários países e foram associados
a programas de controle de reprodução tais como leis de esterilização
compulsória. Tais movimentos acabaram sendo estigmatizados após serem usados na
retórica da Alemanha Nazista em suas metas de
alcançar "pureza" racial.
Darwinismo
social
Em 1944 o historiador americano Richard Hofstadter aplicou o termo "Darwinismo Social"
para descrever o pensamento desenvolvido durante os séculos XIX e XX a partir
das ideias de Thomas Malthus e Herbert Spencer, que aplicaram
as noções de evolução e sobrevivência do mais apto às sociedades e nações.
Estas ideias caíram em descrédito após serem associadas ao racismo e ao imperialismo. Note que na época
de Darwin a diferença entre o que mais tarde seria chamado de "darwinismo
social" e simplesmente "darwinismo" não era clara. Contudo,
Darwin não acreditava que sua teoria científica implicasse qualquer teoria
particular de governo ou ordem social.
O uso do termo
"Darwinismo Social" para descrever as ideias de Malthus não é muito
adequado, uma vez que Malthus morreu em 1834, portanto antes que a teoria de
Darwin tivesse sido concebida. Além disso, de fato, a teoria de Darwin é que
foi inspirada em um ensaio de Malthus de 1838, Princípio da População. O
"progressivismo" evolutivo de Spencer e suas ideias políticas e
sociais também foram muito influenciados pelas ideias de Malthus e seus livros
sobre economia (de 1851) e evolução (de 1855) são ambos anteriores à publicação
da "Origem das Espécies" (de 1859).
Bibliografias
·
836: A
LETTER, Containing Remarks on the Moral State of TAHITI, NEW ZEALAND, &c. –
BY CAPT. R. FITZROY AND C. DARWIN, ESQ. OF
H.M.S. 'Beagle.' [1]
·
Zoology of the Voyage
of H.M.S. Beagle: publicado entre 1839 e 1843 em
cinco volumes por vários autores, editado e supervisionado por Charles Darwin: [2]
·
1849: Geology from A
Manual of scientific enquiry; prepared for the use of Her Majesty's Navy: and
adapted for travellers in general., John F.W. Herschel ed. [6]
·
1851: A
Monograph of the Sub-class Cirripedia, with Figures of all the Species. The Lepadidae; or, Pedunculated Cirripedes. [7]
·
1854: A
Monograph of the Sub-class Cirripedia, with Figures of all the Species. The Balanidae (or Sessile Cirripedes); the Verrucidae, etc. [9]
·
1862: On
the various contrivances by which British and foreign orchids are fertilised by
insects [12]
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