NOSSO PARENTESCO COM
OS ANIMAIS
A evolução da espécie humana |
Até o século XVIII, a espécie humana era
considerada inteiramente diferente de todos os outros seres vivos, visão
compartilhada por eminentes teólogos e filósofos, como Kent e Descartes.
Entretanto, as semelhanças entre seres humanos e chimpanzés já haviam sido
notadas por Lineu, que classificou esses macacos antropoides no gênero homo.
Darwin foi o primeiro a propor nossa
relação de parentesco evolutivo com os grandes macacos, incluindo
definitivamente a espécie humana no reino animal e, de certa forma,
destronando-a do ponto mais alto da criação. Embora Darwin tenha sido cauteloso
em suas proposições, alguns de seus contemporâneos, como Thomas Huxley e Erns
Haeckel, defenderam vigorosamente a ideias equivocada de que nossa espécie se
originara diretamente de macacos como o gorila e o chimpanzé. Segundo os
evolucionistas atuais, porém, esses antropoides e a espécie humana tiveram um
ancestral em comum há relativamente pouco tempo, possivelmente entre 8 milhões
e 5 milhões de anos atrás.
A semelhança entre seres humanos, chimpanzés, gorilas e orangotangos são bem evidentes, pois pertencem a um ancestal comum. |
·
Evidências
da evolução.
Os cientistas consideram
basicamente três tipos de evidências para desvendar o parentesco e a história
evolutiva dos organismos: semelhanças anatômicas e fisiológicas entre grupos de
organismos, fósseis e semelhanças moleculares. Vamos analisar como essas
evidências têm sido empregadas no estudo da evolução humana.
Os seres humanos apresentam grandes semelhanças anatômicas com os macacos
antropoides, principalmente com o chimpanzé. As diferenças resumem-se,
basicamente, à proporção entre braços e pernas, ao grau de mobilidade do
primeiro dedo, à distribuição dos pêlos corporais e à dentição. Além disso, o
encéfalo humano é proporcionalmente maior que o do chimpanzé. A capacidade
craniana, que reflete o tamanho do encéfalo, é da ordem de 1.350 cm3
na espécie humana e de cerca de 400 cm3 nos chimpanzés.
Quanto aos fósseis, Darwin previu, em 1871, que seriam encontrados vestígios
de ancestrais humanos na África. Ele se baseou no fato de que gorilas e
chimpanzés – nossos parentes mais próximos, segundo sua teoria – só eram
encontrados nesse continente, onde deviam ter vivido os ancestrais comuns à
espécie humana e a esses animais. Na época, essas conclusões não foram bem
recebidas pelo mundo cientifico. Além da falta de evidências que comprovassem a
hipótese de Darwin, havia uma certa predisposição da cultura europeia em
rejeitar a ideia de que o berço da humanidade havia sido o continente africano.
Até a década de 1920, fósseis claramente
relacionados à ancestralidade humana tinham sido encontrados apenas na Europa e
na Ilha de Java, na Indonésia. Foi somente em 1924 que Raymond Dart
(1893-1989), um professor de anatomia australiano, encontrou pela primeira vez,
na África, o crânio fóssil de um hominídeo, classificado como Australopthecus
africanus. Conta-se que Dart levou mais de dois meses escavando a rocha
ao redor do fóssil com uma pequena lâmina, até libertá-lo totalmente. Logo em
seguida, ocorreram novos achados. No período entre 1936 e 1940, o médico
escocês e paleontologista amador Robert Broom (1866-1951) descobriu, em uma
caverna do sul da África, outros fósseis de A.
africanus e um fóssil de outro hominídeo, chamado então de Paranthropus robustus (atualmente
classificado como Australopithecus
robustus ).
Outros paleontólogos conhecidos por suas
descobertas de fósseis da linhagem humana são Louis Leakey e sua esposa, Mary
Leakey. Eles encontraram, em 1959, fósseis de um novo australopiteco (A. bolsei). Em 1978, Mary Leakey
descobriu pegadas fósseis deixadas em cinza vulcânica por três prováveis
australopitecos.
O documentário fóssil sobre a história
evolutiva humana ainda é muito incompleto no período que vai de 13 milhões a 6
milhões de anos atrás. Foi nesse intervalo que provavelmente ocorreu a
diversificação das linhagens que originaram gorilas, chimpanzés e seres
humanos. Recentemente foram descobertos fósseis importantes de primeiros
hominídeos, datados entre 6,5 milhões e 5,5 milhões de anos, como o Sahelanthropus sp. e o Orrin sp. Esses hominídeos viveram
provavelmente, logo após a separação da linhagem humana daquela que originou os
chimpanzés.
A maioria dos fósseis da linhagem humana
resume-se apenas a partes de indivíduos, como fragmentos de mandíbula, dentes,
partes do crânio e de membros etc.; raramente encontram-se fósseis de
indivíduos completos. Por isso, qualquer tentativa de reconstruir a estrutura
corporal do ser quando vivo exige um estudo exaustivo e rigoroso. Outra dificuldade
dos cientistas é que, mesmo sendo possível reconstituir a aparência de um
individuo a partir de seus fósseis, não se sabe qual é o grau de variação
existente naquela espécie, isto é, se o individuo fossilizado é realmente
representativo de sua linhagem. Evidentemente, à medida que novos fósseis são
encontrados, certas hipóteses são reforçadas, enquanto outras têm de ser
reformuladas; é assim que o reconhecimento sobre a história evolutiva humana
progride. Com certeza, ainda ocorrerão muitas mudanças no quadro atual da
classificação humana, apresentado aqui.
Fragementos de um fóssil |
Um grande avanço nos estudos de evolução
deve-se à constatação de que as moléculas orgânicas dos seres vivos evoluem
segundo os mesmos princípios que as características anatômicas e fisiológicas.
Consequentemente, as semelhanças
moleculares, do mesmo modo que as semelhanças anatômicas, ajudam a inferir
o grau de parentesco evolutivo entre os organismos. Recentemente, fizeram-se
comparações detalhadas entre ácidos nucleicos e proteínas dos mais diversos
seres vivos. No caso da espécie humana, os resultados das análises comparativas
mostraram que, de fato, os chimpanzés são mais semelhantes a nós, do ponto de
vista molecular, que qualquer outro ser vivo.
Fonte: Biologia das Populações.
Volume 3. José Mariano Amabis, Gilberto Rodrigues Martho. Editora Moderna.
2 comentários:
muito bom professor
muito boa a explicação , me ajudou muito
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